domingo, 28 de outubro de 2012

Vandalismo Social

Existe uma forma de protesto que usa da própria impunidade para protestar contra o que há de errado. É o que eu vou chamar aqui de vandalismo social, e que venho reparando crescimento, numa população que, em sua minoria, está insatisfeita com a evidente opressão. É uma maneira de a minoria conseguir fazer a maioria entender que o que está aí está muito errado. Cito aqui, com perdão da minha memória imprecisa, um trecho do livro 1984 que diz algo no sentido de "se o proletário soubesse a força que tem, derrubaria o grande irmão" (se não me engano, na cena em que o personagem principal admira o canto da lavadeira).

Todos acham que o país vai milagrosamente melhorar, levando as leis nas coxas
Chegam ao fim as Eleições 2012 e, além do crescente voto nulo, tivemos um outro fenômeno de protesto. As eleições para vereador, por serem uma instância mais local, se tornam um verdadeiro desespero por eleitor, trazendo à tona os famigerados cavaletes.


Dos cavaletes, muitas vezes irregulares, tivemos um exemplo notório do crescimento do Vandalismo Social: a Cavalete Parade. Este evento é uma iniciativa popular para que as pessoas recolhessem o "lixo" formado pelos tripés na rua desde que estivessem em situação irregular, ou seja, atrapalhando o caminho, posicionados em jardins ou canteiros e/ou de pé após as 22 horas. A idéia era fotografar e denunciar a propaganda à Justiça Eleitoral, recolher o material para si e fazer uma pintura por cima.



Não é uma questão exatamente de vandalismo, apesar de que, em alguns casos, as pessoas se exaltavam e realmente podem ter pegado um tripé "regular", entretanto, a lei era muito folgada, realmente tudo ficava uma sujeira, e acho digno dar uma limpada, até como forma de protesto contra a própria lei pró-imundice. Mas, em geral, as pessoas realmente recolhiam o irregular. E isso é uma forma fantástica de protesto, melhor que o chute no cavalete, embora o chute também fosse interessante (e eu mesmo aderi à campanha).


Outras formas de vandalismo social nas eleições são as clássicas pichações de propaganda, do tipo bigodinho de Hitler... Mas o que eu acho impressionante é que uma minoria de pichadores "vandaliza" as propagandas políticas enquanto uma maioria se picha muros e sacadas da população honesta. Talvez a origem da pichação, em si, fosse dar na cara da sociedade a sua derrota e falta de postura, mas acaba se desvirtuando com coisas do tipo "eu picho, você pinta, vamos ver quem tem mais tinta", o que é claramente uma babaquice, fora o fato de o cara estar lá, gastando dinheiro com spray. Então, por que esse cara, supostamente revoltado com o sistema, não picha carros oficiais no centro do Rio? Em vez de pichar o hospital público, a escola municipal, podia sacanear outdoors? Mas os outdoors quase sempre estão em estado perfeito, bem irônico.


Recentemente, virei adepto de rasgar papel colado em poste. Reparei que tem bastante coisa rasgada por aí, talvez as pessoas simplesmente tenham o sentido do vandalismo, mas eu to seguindo a idéia do vandalismo social. Colar propaganda em poste é proibido, então eu posso rasgá-los. Até comprei um isqueiro para queimá-los, mas nunca dá tempo de atear fogo nos mais difíceis (sim, alguns tão muito colados). O problema é que esses papéis em postes são colados aos montes, um ou mais por poste da mesma coisa, então vira um trabalho de formiguinha. Mas assim são os trabalhos de vandalismo social, precisa de uma força coletiva. Uma pessoa sozinha vai estar perdendo tempo, mas, se for feita uma mentalidade coletiva de estragar o que está errado, é possível o povo alcançar o que a polícia (ainda que suponhamos não corrupta) não alcança. O povo vira xerife do próprio povo.


Outra forma de o grupo impedir o errado é a travessia de ruas em multidão. Li sobre isso no livro "Sabedoria das Multidões" e tem disso em grandes centros urbanos aqui no Rio (já vi em Madureira e na Avenida Passos), o povão se junta e todo mundo atravessa, se o cara quiser avançar, vai ter que matar bastante gente. Mas grupos menores, de 5 pessoas, um grupo típico de pessoas num sinal de trânsito, já bastaria para intimidar os carros com intensões de avançar o sinal. O curioso é que as pessoas "respeitam" o "direito" do carro avançar, estão simplesmente deixando passar. Mas, na esquina da Estrada do Gabinal com a Estrada de Jacarepaguá, por exemplo, é muito raro de se ver alguém avançando. Só a presença de um grupo grande na espera na calçada já intimida e, no sinal mais à frente, todos avançam, talvez pela rua ser mais estreita ou porque a aglomeração é menor.

E aí, vai encarar?
O problema do vandalismo social é que, nesta cidade, há uma inversão de valores muito perigosa: o policial não pune o infrator, aliás, nem tem muito como punir e se fizer algo, vai ter grande pressão da mídia em cima. Já o infrator pode punir quem está estragando o seu vandalismo. Comprovamos isso vendo os relatos de pessoas que foram agredidas por vandalizarem socialmente as propagandas políticas (professor é agredido após tentar passar derrubando cavaletes), ainda mais quando é o caso de milícia. A milícia pode te bater, se enfezar se você reclamar, você pode apanhar do dono da boate que faz promoção no poste... Mas, muitas vezes, é só mesmo com fogo que se combate o fogo e tenho esperanças que as pessoas conscientes se juntem para vandalizar o vandalismo. Que tal grupos secretos que pintam paredes pichadas na calada da noite? Obstáculos para motos em passarelas, nas quais só podem passar DESMONTADOS, com o motor desligado (eu mesmo sou um obstáculo ambulante, não saio da frente mesmo depois de perceber, mas, pro caso de reclamar, "tava ouvindo música no fone, nem ouvi a buzina"). O mínimo atraso que você provoca para essa gente que está "super apressada" já é suficiente para irritá-las um pouquinho.

Se concorda, pratica ou se empolgou com a idéia, então espalhe  para que o movimento realmente fique valendo a pena. É uma força que só uma pequena massa pode mover, não faça o esforço de alguns ser em vão.

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